sexta-feira, 23 de julho de 2010

MENTIR COMPULSIVAMENTE PODE SER UMA DOENÇA

Sempre me interesso por assuntos relacionados a Psicologia, embora nunca tenha tido vocação ou formação profissional nesse campo. Talvez por meu temperamento curioso e observador, sempre leio e pesquiso muito. E assim, sempre gostei (e gosto) de observar as pessoas ao meu redor, seus comportamentos e atitudes, bem como a mim mesma e meus comportamentos e atitudes. Meu espírito perquiridor sempre esquadrinha comportamentos e atitudes, meus e dos outros, à procura de uma explicação, ainda que tênue, para alguns mistérios da vida e da alma humana. Minha busca é incessante, minhas tentativas são tantas vezes improfícuas, mas não desisto. E o ser humano, sendo de uma tal complexidade, pouco deixa revelar, pouco se deixa ou se faz compreender. Mas insistir é preciso. Porque se apenas seguirmos em frente, sem pensar, sem perscrutar, sem tentar compreender, para onde estamos caminhando, se é que estamos caminhando?

Se há um dia em que mentir não pega mal é 1º de abril, Dia Mundial da Mentira. No demais, a “mãe” da falsidade e da dissimulação não só é mal vista, como considerada má conduta.
A mentira não deve ser entendida como uma espécie de contrário da verdade. Ética e moralmente a mentira está muito mais relacionada à intenção de enganar do que ao teor de deturpação da verdade e, juridicamente, a mentira está relacionada ao dolo ou prejuízo que causa a outra pessoa.
Mentir não é apenas invenção deliberada, uma ficção, pois nem toda ficção ou fábula é sinônimo de mentira. Não pode ser mentira a literatura, a arte ou mesmo a demência (sintoma da confabulação). A intencionalidade é que define a mentira, estabelece o dano ou dolo.
Assim sendo, não mente quem acredita naquilo que diz, mesmo que isto seja falso. Santo Agostinho declara que “Quem enuncia um fato que lhe parece digno de crença ou acerca do qual forma opinião de que é verdadeiro, não mente, mesmo que o fato seja falso”.
Para os mentirosos de plantão, que acham mentir uma necessidade, segue um alerta: fazê-lo em excesso pode significar, mais do que uma fuga, um distúrbio de personalidade. Segundo os psiquiatras, isso tem nome: mitomania.
Pessoas mentem pelos mais variados motivos, mas um grupo de pacientes ou pessoas tem uma alteração do comportamento chamada mentira patológica. São pessoas que mentem compulsivamente. Alguns transtornos psiquiátricos como os clássicos Transtornos de Personalidade, do tipo antissocial e fronteiriço, com mudanças constantes de humor, mentem. Alem destes, pacientes com Transtorno de Humor Bipolar, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.
A mentira é tão frequentemente utilizada que o seu sentido ultimamente parece tender a ser banalizado. Segundo as estatísticas (citadas por Roque Theophilo), mentimos cerca de 200 vezes por dia e em média uma vez por cada 5 minutos.
Começando pelos falsos elogios - p.ex, essa saia fica-te mesmo bem -, passando pelas desculpas "esfarrapadas" - p.ex., não pude fazer os trabalhos de casa porque faltou a luz - ou pelas mentiras descaradas, chegam mesmo existir casos em que os pais, que parecem tão preocupados quando os filhos mentem, os incitam a mentir - p.ex. quando lhes pedem para dizer que eles não estão em casa.
Mentir pode ser  por várias razões: receio das consequências (quando tememos que a verdade traga consequência negativas), insegurança ou baixa de auto-estima (quando pretendemos fazer passar uma imagem de nós próprios melhor do que a que verdadeiramente acreditamos), por razões externas (quando o exterior nos pressiona ou por motivos de autoridade superior ou por co-acção), por ganhos e regalias (de acordo com a tragédia dos comuns, se mentir trás ganhos vale a pena mentir já que ficamos em vantagem em relação aos que dizem a verdade) ou por razões patológicas.
Na infância mentimos para nos isentarmos das culpas. Muitas vezes os adolescentes descobrem que a mentira pode ser aceite em certas ocasiões e até ilibá-los de responsabilidade e ajudar a sua aceitação pelos colegas.
Algumas crianças e adolescentes que geralmente agem de forma responsável, podem cair no vício de mentir repetidamente ao descobrir que as suas mentiras saciam a curiosidade dos pais.
Face à sua frequência, existe uma certa tendência para banalizar ou até catalogar a mentira como positiva - a "mentira branca" é considerada como uma forma de facilitar a integração na sociedade, e muitas vezes os que não a utilizam são catalogados como ingénuos -, mas há que não esquecer que durante toda a história da humanidade a mentira causou muitos sofrimentos e fez derramar muitas lágrimas sobretudo quando projectada sob a forma de calúnia
Quando as crianças ou adolescentes mentem, os pais devem conseguir distinguir entre a realidade e a mentira e falar abertamente com eles sobre os aspectos pejorativo da mentira, e as vantagens que a verdade lhes trará. Em casa a criança deverá encontrar exemplos de verdade e honestidade que fomentem a sua atitude de sinceridade.
A mentira existe ao longo de toda a escala patológica. A saúde mental só é compatível com a verdade. De nada serve querer acreditar que o nosso familiar não faleceu quando na realidade isso não é a verdade, de nada serve acreditarmos que somos capazes voar se na realidade não temos asas.
Nos estados neuróticos, a mentira pode surgir com base numa incapacidade da consciência aceder a factos recalcados e que se encontram no nosso inconsciente, ou por problemas de auto-estima e auto-imagem que despoletam a necessidade de fazer passar uma auto-imagem melhor do que a que acreditamos ter. Nos estados limite, a mentira aparece frequentemente devido à falta de barreiras externas que balizem o comportamento. Esta situação surge frequentemente em filhos de pais muito repressivos ou demasiadamente permissivos. Nas psicoses, a mentira surge na forma de delírio, uma descrição que as próprias pessoas admitem como verdadeira, apesar do seu aspecto frequentemente bizarro, devido a uma quebra de contacto com a realidade.
A mentira pode ainda surgir como uma dependência, quando dita de uma forma compulsiva. Os dependentes da mentira sabem que estão a mentir mas não se conseguem controlar, num processo que surge de uma forma muito semelhante ao do vício do jogo ou à dependência de álcool ou de drogas.
Esta incapacidade em controlar os impulsos é causadora de um sofrimento nítido razão pela qual deve ser alvo de tratamento. Nos dependentes da mentira, o primeiro passo a dar consiste em assumir que existe um problema e de seguida procurar ajuda para esse mesmo problema. A nível da abordagem terapêutica o tratamento passa geralmente pela realização de uma terapia psicológica.

Fontes:
E conhecimentos adquiridos em outras pesquisas.

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